O mesmo, poesia de Fagundes Varela

13 07 2025

Figura feminina, moça na cadeira de balanço, 1912

Rodolfo Amoedo (Brasil, 1857-1941)

óleo diluido sobre papel, 23 x 30 cm

 

 

O mesmo

 

Fagundes Varela

 

Desde a quadra a mais antiga

De que rezam pergaminhos,

Cantam a mesma cantiga

Na floresta os passarinhos.

 

Têm o mesmo aroma as flores,

Mesma verdura as campinas,

A brisa os mesmos rumores,

Mesma leveza as neblinas.

 

Tem o sol as mesmas luzes,

Tem o mar as mesmas vagas,

O deserto as mesmas urzes,

A mesma dureza as fragas.

 

Os mesmos tolos o mundo,

A mulher, o mesmo riso,

O sepulcro o mesmo fundo,

Os homens o mesmo siso.

 

E neste insípido giro,

Neste voo sempre a esmo,

Vale a pena, sem seu retiro,

Cantar o poeta, mesmo?


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